quarta-feira, 5 de maio de 2010

Saber Envelhecer

Sinto muita tristeza quando, nas mais variadas circunstâncias, vejo pessoas que outrora foram muito capazes, nalguns casos até brilhantes, perderem a capacidade de auto-crítica e fazerem figuras ridículas, fruto da redução natural das suas capacidades físicas e intelectuais.
Vem isto a propósito do grupo de ex-ministros das finanças que pediram audiência ao Presidente da República, também ele ex-ministro das finanças e ex-colega e amigo de muitos deles, para lavrarem o seu protesto pela concretização de todas as grandes obras públicas previstas no PEC.

Também a mim e com os dados de que disponho, como certamente a muitos portugueses, não me parece urgente a ligação por TGV entre Lisboa e a fronteira espanhola. Salvo compromissos internacionais já assumidos e eventuais indemnizações a terem que ser pagas e/ou perca de contribuições financeiras comunitárias, parece-me que este investimento poderia ser adiado e os restantes troços simplesmente esquecidos. Mas eu aceito democraticamente a decisão da maioria que foi eleita. Considero-me um cidadão igual a todos os outros. Expresso a minha opinião através do voto e de forma escrita ou oral, quando para isso tenho oportunidade e vontade de o fazer. Há um tempo para criar, para arriscar, para inovar e há outro tempo, também importante, para manter, para actuar com prudência, para transmitir o saber de experiência feito.

O que são, institucionalmente, um grupo de ex-ministros das finanças? Simplesmente NADA!
Ou melhor, são um grupo de pessoas que teve responsabilidade na condução da política financeira e económica de Portugal e não foi capaz de alterar as fragilidades estruturais da nossa economia nem equilibrar as nossas finanças de forma sustentada.
Agora que os seus tempos áureos já estão longe vêem, com uma efervescência serôdia, querer mostrar-se como mentes ainda brilhantes, acima de qualquer suspeita e do comum dos mortais, sem ninguém lhes ter pedido nem mandatado para tal, ditar sentenças para problemas novos de um mundo diferente daquele que conheceram. Esqueceram-se que a soberania não reside neles mas no Povo e em quem este mandatou. Infelizmente não estão a saber envelhecer...

Pedro Sá

3 comentários:

  1. Concordo plenamente consigo.
    Todos deviam seguir o exemplo do nosso querido Dr. Mário Soares, que é o exemplo único do SABER ENVELHECER. Ainda ontem na SIC notícias, deu uma lição de sabedoria, que eu desejaria que os nossos governantes ouvissem e aprendessem.
    Por um Portugal Melhor

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  2. Numa noite impropriamente de chuva e sem sono, lembrei-me deste espaço e mais uma vez em "À sombra das acácias vim encontrar palavras de sabedoria.
    É com imensa pena que hoje lhe dou razão.A manifesta necessidade que os nossos ex-qualquer coisa sentem de estar em bicos dos pés na vida pública é confrangedora.
    O primeiro sintoma de velhice é não se ter consciência de que se é velho, a que se associa normalmente uma visão derrotista de tudo e de todos.
    Vivo mal com a ideia de que também para mim chegará o dia das verdades absolutas e que o não reconhecimento das mesmas me trará azedume. Por isso comprei um chapéu de feltro vermelho com a dupla finalidade: lembrar-me que a vida é um cálice para ser saboreado até à última gota; que o ridículo é um perigo iminente.

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  3. Certamente por defeito meu não consigo entender como, num mesmo discurso, se classifiquem ex-ministros, no caso das finanças, como pessoas outrora muito capazes e até brilhantes, mas simultaneamente incapazes de encontrar soluções, nesse tempo, para as dificuldades financeiras e económicas que o país vem atravessando desde há muitos anos.
    É pois com naturalidade que se concorda na inutilidade da presença deles junto da presidência da República, não que estejam senis ou os tempos sejam outros, mas exatamente porque, na minha perspetiva, nunca foram muito capazes e muito menos brilhantes.

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