quarta-feira, 28 de abril de 2010

O ataque financeiro a Portugal

As fragilidades da economia portuguesa são conhecidas há muito tempo. Os diagnósticos têm sido feitos, ora acentuando mais um factor, ora fazendo um enfoque especial em outro ou outros. As dificuldades são estruturais. Há muito que se reclama uma estratégia coerente de crescimento do País, com objectivos claros, políticas bem definidas e acompanhamento e controlo eficaz. Objectivos e programas de acção que os políticos dos partidos de poder respeitem e constituam indicadores claros para os agentes económicos.
Os resultados, infelizmente, têm-se visto...

Então porque é que, de repente, os "mercados financeiros" "descobrem" que afinal Portugal tem um risco acrescido? Porque é que, de repente, o País e as suas instituições deixam de ser credíveis? Porque é que, de repente, passa a haver dúvidas sobre a nossa capacidade de pagar as nossas dívidas?
Mas repare-se, os ditos "investidores" não deixam de emprestar... apenas emprestam mais caro... Ora, se efectivamente julgassem que Portugal cessaria os seus pagamentos obviamente não emprestariam...

Quanto a mim a explicação é outra. Portugal, tal como a Grécia, é um pequeno país. Não é muito caro e difícil especular ou, se preferirem, manipular o mercado dos títulos da dívida pública portuguesa. Por outro lado, os mecanismos de defesa do euro são incipientes e muito burocratizados, acresce que os principais dirigentes da Europa, especialmente Durão Barroso, Angela Merkel e Sarkosy, não têm a dimensão política e ética de Delors, Koln e Mitterrand...
Alguém imagina o mesmo tipo de actuações do "mercado" em relação a algum estado dos Estados Unidos? E há alguns em que a situação financeira é bem pior que a grega ou a portuguesa... Só que aí sabe-se que o governo federal nunca permitiria tal ataque...
No caso europeu, em minha convicção, é a zona euro que está em jogo e o próprio futuro da União Europeia, tal como foi arquitectada.
Ou as instâncias europeias actuam solidariamente com os países membros, certamente aumentando os mecanismos de controlo, fiscalização e penalização e aprofundando a integração das economias nacionais na economia europeia ou a ideia de União Europeia esfuma-se e cada país terá que actuar de acordo com os seus interesses nacionais, com a política de alianças que julgar mais conveniente para si e com a integração económica em espaços internacionais em que tenha mais vantagens competitivas.
Será cada um por si e certamente os acordos internacionais, a começar pelo Acordo de Comércio Internacional, será subscrito de acordo com os interesses nacionais. Os pequenos países não servem apenas para levar com os custos da integração alemã e com os custos da salvação dos bancos alemães que investiram na Rússia.
São os bancos alemães e franceses que têm a maior parte da dívida grega e portuguesa.

Espero que o bom senso prevaleça e que a construção da Europa prossiga.

Pedro Sá

1 comentário:

  1. Gostei muito de ler a sua apreciação crítica sobre o estado da economia portuguesa!A mim parece-me que vivemos muito em função da economia, dá a sensação que todas as opções/posições tomadas são em função da economia, estatísticas..Nem sempre os números são sinal de melhorias..
    Vou estando atenta às suas reflexões ;)
    Carina

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