domingo, 27 de março de 2011

Em época de eleições II

Não há margem de manobra para as medidas que tem que ser tomadas a curto prazo.
Seria desejável que houvesse um governo com uma grande base de apoio e com compromissos estratégicos de longo prazo para o País.
Um governo minoritário ou com alianças apenas a um dos lados do espectro político também estará condenado ao fracasso. Isto é, quer um governo com os partidos do centro-direita, mesmo que pretenda ter algumas preocupações sociais e de defesa dos trabalhadores, quer um governo de centro-esquerda, mesmo que assuma preocupações liberais e de defesa dos detentores do capital, não serão solução estável e duradoura.
É absolutamente necessário, ganhe quem ganhar as eleições, com maioria ou sem ela, que o PSD e o PS se entendam num projecto de País e de governo.
Chega de brincadeiras e chacota política!
Mas temos que ser realistas. As actuais lideranças do PSD e do PS insultaram-se tanto, fizeram tanto jogo sujo, crisparam-se tanto, que não têm condições pessoais para se entenderem. Quando o PSD propõe a decapitação da liderança do PS para uma eventual colaboração, do mesmo modo que a liderança do PS, quando acusa a actual liderança do PSD de ser anti-patriótica e de prosseguir mesquinhos interesses partidários sem cuidar dos interesses nacionais, continuam a contribuir para que não haja qualquer possibilidade de entendimento.
Existem em ambos os partidos pessoas sérias e honradas, com provas dadas na governação e na defesa da coisa pública, que se conduzem na política com respeito pela ética republicana e que não estiveram envolvidas na chicana dos últimos tempos, que têm capacidade de se entenderem respeitando as opções políticas e sociais de cada um.
Espera-se que as actuais lideranças do PS e do PSD, sem deixarem de o ser, tenham a sabedoria, a humildade e o amor à Pátria para ir buscar esses interlocutores. O País necessita deles. Direi mesmo, não pode passar sem eles.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Em época de eleições I

José Sócrates acaba de apresentar a demissão. Trata-se de uma situação previsível desde que Passos Coelho assumiu a presidência do PSD e o PS ganhou as eleições com maioria relativa e optou, ou foi obrigado, a governar sozinho.
Logo que assumiu a presidência do PSD, Passos Coelho elegeu como primeira prioridade a alteração da Constituição. Sócrates não mostrou disponibilidade para realizar a revisão constitucional no sentido que Passos Coelho pretendia. A partir daí, assistimos a uma guerrilha politiqueira de autêntico vale-tudo. Desde os insultos ao carácter de José Sócrates , a obstrução sistemática e demagógica da governação e à instrumentalização política da Justiça, tudo serviu para dificultar a acção governativa. Por outro lado, a personalidade de Sócrates, confundindo determinação com arrogância e perseverança com teimosia, bem como autênticos "tiros nos pés" dados pelo seu governo, contribuíram para uma situação de crispação, de ressentimentos mútuos entre as direcções do PS e do PSD, que inviabilizaram qualquer solução que salvaguardasse os interesses dos portugueses.
O próprio PEC, negociado quase "à força" entre o PSD e o PS, mereceu, logo depois, o repúdio por parte da direcção do PSD, dizendo que aquele plano não era o seu, que apenas o tinha viabilizado por "dever patriótico"... A partir daí era só esperar pela reeleição de Cavaco Silva e aguardar o momento mais adequado aos interesses da actual direcção do PSD para fazer cair o governo, queimando Sócrates "em lume brando". Acresce que Sócrates e Cavaco Silva ajudaram à festa...
Esta direcção do PSD tem consciência da necessidade de serem implementadas medidas impopulares, atendendo à actual conjuntura europeia. Se fosse José Sócrates a implementa-las, tanto melhor, se não fosse possível, então seria o FMI que obrigaria a toma-las e, com algum jeito, até podia fazer com que se esquecesse a actual Constituição...
Tenho dúvidas se foi este o momento escolhido para Passos Coelho para "ir ao pote" (termo usado por Passos Coelho, seg. Miguel Portas) ou se foi José Sócrates que o precipitou. Apenas uma certeza, Cavaco Silva não esteve à altura do cargo que desempenha. Assobiou para o lado, passou a bola ao Parlamento, fazendo tudo para não se comprometer. De facto, a coragem nunca foi o seu forte. São estes os políticos que temos.

musica medieval