quinta-feira, 5 de maio de 2011

Há mais de 140 anos!

"ORDINARIAMENTE, todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente".
"País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégios e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?"

(Eça de Queiroz, 1867, in "O distrito de Évora")

Em época de eleições V

Os partidos políticos divulgaram as suas listas de deputados para as próximas eleições.

Como sempre aparecem ilustres desconhecidos sem que haja qualquer conhecimento público das suas devoções à causa pública ou sem que haja conhecimento do seu trabalho na Assembleia da República, além de carregar nos botões para expressarem o seu sentido de voto. Muitas vezes, após as campanhas eleitorais, nem sequer põe os pés nos círculos eleitorais pelos quais são eleitos.

Mas há outros tipos de deputados...Aqueles que aparecem nas listas sem que tenham qualquer ligação aos programas e às ideologias dos partidos pelos quais se apresentam. Refiro-me aos cabeças de lista do PSD em Lisboa, Fernando Nobre e do PS em Leiria, Basílio Horta. Não coloco em causa a honradez pessoal e ideológica, o saber técnico e a devoção à causa pública de qualquer destes cidadãos. Como irão ser eleitos, o tempo o dirá.

Causa repugnância o eleitoralismo demagogo, a falta de coerência ideológica das direcções dos partidos que escolhem estes cidadãos. Ainda tão recentemente Fernando Nobre candidatou-se contra Cavaco Silva e, anteriormente, tinha sido mandatário do Bloco de Esquerda... Quem não se recorda do debate televisivo que opôs Basílio Horta a Mário Soares numa campanha para as eleições presidenciais?...
Nem o primeiro tem nada a ver com um modelo político liberal com preocupações sociais nem o segundo tem a ver com a social-democracia...

Sacrifica-se a coerência e a transparência à ilusão de, eventualmente, conseguir mais uns votos em terrenos dos adversários. Pretende-se mostrar uma falsa abrangência invés de negociar com verdade, partilhando o poder com os adversários políticos. Práticas medíocres de políticos menores. Os actuais líderes partidários sacrificam o interesse nacional e o Bem Comum aos seus interesses pessoais ou dos grupos de quem são serventuários.

Será que estamos destinados a ter que escolher qual é o menos mau?

musica medieval