quarta-feira, 9 de junho de 2010

À volta das alianças sociais

Aí pelos anos 70/80 do século passado, por diferentes razões convergentes entre si, desenvolveu-se uma aliança entre os detentores do capital e os detentores do saber e do saber-fazer. Era o tempo em que nas empresas, sobretudo os gestores profissionais e os quadros técnicos tinham, contratualmente ou por deliberação casuística dos detentores do capital, participação nos lucros ou prémios por obtenção de resultados. Na Europa, a rotatividade dos quadros fora da empresa ou do grupo económico em que estavam inseridos era diminuta. Privilegiava-se um ordenado fixo relativamente baixo complementado por remuneração variável face aos resultados. Em termos simplistas, poderia dizer-se que havia uma aliança tácita entre os detentores de capital e os quadros técnicos na partilha dos lucros...
Hoje o paradigma é outro...
A massificação do ensino superior, a procura global de recursos humanos qualificados, o individualismo e o desinteresse dos sindicatos tradicionais em apoiar os quadros técnicos, levou a que as condições destes trabalhadores fossem sendo degradadas. Primeiro, quanto à diferenciação salarial e aos prémios ou participação nos lucros, seguidamente quanto à segurança do emprego e condições de trabalho.
Hoje os quadros técnicos estão em situação próxima dos operários qualificados, mesmo pior quanto à segurança de emprego. É muito mais fácil despedir um quadro que um trabalhador, mesmo pouco qualificado.
Não só em Portugal mas, pelo menos, a nível europeu estão a criar-se as condições para uma nova aliança entre aqueles que têm o saber e o saber-fazer com os que produzem...
Mas uma certa esquerda, dita bem pensante ou consequente e um certo sindicalismo que só olha para a quantidade dos grupos profissionais, estão mais preocupados em em reparar nas diferenças de remunerações entre trabalhadores do que entre os que trabalham e os recebem os lucros.
Ninguém questiona sobre quanto os trabalhadores pagam, directa e indirectamente, de impostos e quanto recebem através de transferências do Estado e, por outro lado, quanto pagam os detentores de capital e quanto recebem em subsídios e serviços do Estado...
É necessário unir os trabalhadores que estão dispersos, na defesa dos seus interesses comuns e na construção de uma Sociedade mais justa.
Afinal, parece que, pelo menos nesta questão, o Velho tinha razão...

1 comentário:

  1. Caro ASORDEP,
    Nesta tua reflexão, levantas questões importantes na evolução da sociedade nos últimos anos, nomeadamente relacionadas com a evolução e preocupacões do Sindicalismo actual, assim como, da quantificação do que pagam os trabalhadores ao Estado e o que recebem.
    Situações que merecem uma análise e profunda reflexão/investigação.
    Quanto à aliança entre os detentores do capital e os detentores do saber e do saber fazer(gestores profissionais e os quadros técnicos)verificada nos anos 70/80 quero apenas complementar a tua reflexão informando que essas situações conquistadas em Portugal principalmente na década de 90, ainda se mantém nomeadamente nas empresas públicas ou de capitais públicos (participação nos resultados, subsídios de disponibilidade, subsídio de desempenho, viatura e gasolina.
    Os novos técnicos que também "sabem fazer", estão a entrar nessas empresas sem a maior parte das regalias negociads na década de 90 e mantidas pelos técinos ainda em actividade.
    Continua a refletir e apresentar textos que merecem aprofundamente pela Sociedade.
    MPValente

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