sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Pátria Portuguesa

Dois factos recentes, de sinal contrário, impressionaram-me vivamente. A solidariedade da generalidade dos portugueses com os madeirenses, na sequência da desgraça que lhes caiu em cima e a manifestação de vontade de habitantes de Valença do Minho em deixarem de ser portugueses devido ao encerramento,das 24 às 8 horas da manhã, dos SAP(Serviço de Assistência Permanente). Estes factos levaram-me a alinhar estas notas sobre o conceito de Pátria e de patriotismo.

Cada um de nós tem um sentimento de pertença a diversos grupos. Em primeiro lugar ao grupo da Família, onde os "laços de sangue" ditam a pertença a esse grupo; também temos o sentimento de pertença ao local e à região onde nascemos; ao País onde nascemos e ao País onde vivemos, que até pode não ser o mesmo... Parece-me pois que a Pátria é definidade de "dentro para fora", por esse sentimento de pertença que, individualmente, temos ou não. É o conjunto daqueles que tem em comum esse sentimento de pertença que a constituem, independemente da sua origem cultural ou étnica, da sua religião, da sua condição económica ou preferências políticas. Trata-se de uma corrupção do conceito Pátria a forma como os diversos nacionalismos a interpretam. Com efeito, ser patriota é ter orgulho na Pátria e defende-la sempre que esta estiver em perigo e sentir-se defendido por ela. Não é, de forma alguma, sentir que a sua Pátria é melhor que as outras, que tem o direito a atacar outras pátrias, que se pode circunscrever ou definir quem são aqueles que a compõe. O patriotismo será tanto mais forte quanto maior for a possibilidade que cada um tem em intervir nas decisões colectivas e, por conseguinte, a Pátria liberta-se e floresce com o desenvolvimento da Liberdade e da Democracia...

Em tempos recentes, temos visto os portugueses demonstrarem o seu patriotismo quer no orgulho patentiado aos símbolos da Pátria como nas competições desportivas, nas manifestações culturais ou científicas, nas dificuldades económicas, etc...

Mais uma vez, a solidariedade patriótica manifestou-se de forma surpreendente em relação aos madeirenses. Em período de crise generalizada, com dificuldades acrescidas para todas as famílias era, e é, surpreendente a adesão do povo português às diversas campanhas que estão em curso. Desde do arredondar das facturas dos super-mercados, às adesões a espectáculos e outros eventos de beneficiência. Nas filas das caixas dos supermercados é surpreendente como as pessoas, ao mesmo tempo que exprimem a sua indignação em relação ao Presidente do Governo Regional da Madeira - aquele que os considera depreciativamente "cubanos" e que promete nada alterar face às possíveis causas das derrocadas - arredondam as contas a favor dos madeirenses, pois "estes precisam de ajuda e não tem culpa das asneiras do Jardim"...

Por outro lado, como é possível que se admita deixar de pertencer a uma pátria, no caso a portuguesa, por o serviço local de assistência à saúde fechar das 24 às 8horas da manhã e as pessoas terem que recorrer a uma localidade próxima. Não está em causa a legitimidade, ou não, da reinvindicação mas a fragilidade dos laços de pertença e o sentido oportunista e egoísta com que consideram a Pátria.

Mesmo procurando compreender as particularidades das localidades transfronteiriças, que Valores prosseguem as pessoas que admitem fazer um "trade-off" da sua Pátria em função de meros benefícios privados que poderão usufruir?

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