sábado, 3 de abril de 2010

Idiotice completa ou má-fé?

O DN do passado dia 1 tem um artigo de opinião do jornalista Jorge Fiel intitulado "Manter a RTP1 pública é uma idiotice completa".

Para além das recordações que Jorge Fiel tem dos programas a preto e branco que via na RTP e que só a ele dizem respeito, conclui que, como recebemos por cabo mais de 100 canais, manter a RTP1 como canal público é uma idiotice completa pois "fica mais cara que alimentar um burro a pão-de-ló" dado receber mais do dobro dos subsídios atribuídos à Carris e STCP.

A ignorância e ligeireza manifestada nesta opinião não mereceriam mais do que desprezo ou, atendendo ao espírito da época, indulgência do tipo "perdoai-lhe Pai..." se Jorge Fiel, além da foto, não assinasse o texto com o classificativo de "jornalista". Consequentemente, tem responsabilidade acrescida pois, sendo profissional do "meio" com veículos de comunicação social à sua disposição para exprimir as suas opiniões, é-lhe exigível maior rigor e honestidade intelectual.

Senão, vejamos:

1 - O universo RTP, além da RTP1 abranje a RTP2, a RTPN, a RTP África, a RTPi, a RTP memória, as Antenas 1, 2 e 3. Muitos destes canais absorvem, naturalmente, uma grande parte dos subsídios que são atribuídos à RTP. Além disso, as delegações da RTP por esse mundo fora e a cobertura internacional efectuada pelos seus jornalistas são, inegavelmente, peças que correspondem aos interesse dos portugueses e não visões estranhas, transmitidas pelas grandes agências noticiosas, de acordo com os interesses dos principais mercados "consumidores" de notícias. Não me lembro de ver programas, informativos ou de outro tipo, com linguagem gestual em outras estações. Além disso, a RTP1 tem, obrigatoriamente, menos tempo de publicidade e consequentemente de receitas, que os canais privados. Finalmente, será que são honestamente comparáveis os subsídios aos lisboetas e portuenses que utilizam os autocarros das respectivas cidades com os subsídios ao serviço público de rádio e televisão?

2 - Como qualquer profissional de comunicação social sério e minimamente informado sabe, a notícia sobre um determinado facto pode ser apresentada de diferentes maneiras: com maior ou menor emoção, com maior ou menor realce de certos pormenores, com um enfoque mais factual ou mais contextualizado ou, ainda, a escolha e o alinhamento das notícias e a sua paginação não são indiferentes a um serviço público de comunicação social. Não vale a pena exemplicar pois qualquer pessoa pode comparar os diversos jornais e tele-jornais existentes em Portugal. Uns estão mais virados à compra por impulso do que outros, dirigem-se a públicos diferentes... Mesmo as grelhas de programas das televisões são parcialmente diferentes... Quem não se lembra dos reality-shows na SIC e na TVI em contraponto aos concursos com temas de cultura geral ou curiosidades na RTP? Ora, o serviço público de comunicação social também passa por estas opções... Acresce que os mais de 100 canais disponíveis no cabo, não estão disponíveis para todos, quer pelas barreiras linguísticas quer por limitações de local ou preço quer, ainda, por iliteracia. Aliás, como é sabido, o excesso de informação, desinforma...

3 - Os orgãos de comunicação social privados, têm de satisfazer os interesses dos seus accionistas, dos seus anunciantes e só indirectamente dos seus leitores, ouvintes ou espectadores. Quantas vezes, tendo presente esses interesses não são produzidas ou destorcidas notícias? E os jornais, estações de rádio ou canais de televisão que veiculam as mensagens ideológicas dos seus proprietários, quer estas sejam económicas, políticas ou religiosas?
A Democracia, a Igualdade de Oportunidades, a Cultura e a Coesão Social entre os portugueses, torna indispensável a existência de orgãos de comunicação social de Serviço Público, com audiência relevante, de modo a que este seja eficaz. É o preço a pagar para sermos livres...

Em minha opinião o serviço noticioso da RTP é, de longe, o melhor, o mais isento e o mais completo das televisões portuguesas. Por acaso, e apesar de tudo, até é o preferido dos portugueses...
Não sendo provável que Jorge Fiel seja tão ignorante que possa ter opiniões de uma idiotice tão completa, só por má-fé pode expressa-las.

1 comentário:

  1. 1-Pois é amigo continue a pensar como pensa que não estará sózinho.
    2-Existem uns sábios que gostam de privatizar e já se vão ouvindo uns "ruidos" que a Segurança Social o SNS também poderiam ser privatizados e passariam a dar lucro.
    3-Haja Deus livrai-nos do mal o enriquecimento não é para o povo e para este tipo de mentores escondidos atrás de uma caneta ou voz que os vai alimentando até um dia.
    4-Privatizar a RTP como diz o iluminado Fiel?
    5-O que seria da nossa lingua e cultura divulgada através dos canais mencionados pelo seu blogue?
    6-O que os move "será a sombra do Moniz".
    7-Outros iluminados não queriam privatizar a CGD?
    8-O que seria de nós nesta crise Internacional se o tivessem feito? "continuavam a falar da ajuda às PMEs".
    9-A idea que a RTP é manipulada "já foi em tempos das Conversas em Familia e outras conversas ..." é chamar estupido ao povo português que continua a previligiar a informação da RTP, não será suficiente?
    10-O Sr. Fiel não terá intenções de fazer ficção nacional "leia-se telenovelas" em vez de jornalismo ..... para não esclarecerem o povo português e deixar que continue a informação e a cultura que os canais privados nos dão?
    JBS

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